Todos que são músicos com certeza já devem ter passado por algo semelhante.
De vez em quando acontece uma situação engraçada. Parece que minha alma de saxofonista foi embora!
Eu pego no instrumento e mesmo que eu faça aquecimento, escalas, exercicios de leitura, a coisa simplesmente não flui!
Em algumas raras vezes conforme vou estudando a vontade de tocar retorna. Mas na maioria das vezes não é isso que acontece.
E o saxofonista que habita em mim não comparece. Talvez nem queira estar ali.
E nesse momento a musica não acontece, não ocorre a união sagrada do instrumento com o divino.
Nem mesmo uma ligaçãozinha simples da embocadura com o cérebro. Nada.
A coisa corre mecânica e sem vida. Até sai uns sons bonitinhos, fruto do treino ao longo dos anos.
Mas parece que a alma do saxofonista está perdida em algum longiquo lugar.
Talvez assistindo Charlie Parker em alguma outra dimensão... Talvez.
Quando isso ocorre não há vida na melodia, não há alegria no ressoar das chaves em cada mudança de nota.
Fica apenas o som, um timbre agradável. Mas falta-lhe o sentimento, falta-lhe o charme das notas ecoando no universo.
E aí nada temos a fazer. Apenas estudar o tempo necessário para a tecnica não engessar. Resta-nos apenas nos contentar com um timbre frio e robótico.
A felicidade está em ter a certeza que é apenas um dia ruim. Um dia branco. Um dia de cansaço depois do trabalho, onde a mente deseja se deliciar com futilidades que passam na TV a cabo.
Resta para o meu amigo saxofone aguardar melhores dias. Dias em que ele se sentirá pleno. Cantará com fervor e encantamento. E sua melodia será ouvida lá na via láctea.
(E nem estou falando do mingau.)
Ele sabe que dias ruins passam. Que como um caso de amor, há vezes que você não quer dar carinho. Quer apenas descansar em algum sofá. Quieto, inerte.
Um dia que você quer estar em algum outro lugar, onde você é outro. Você é o expectador, não o protagonista.
Como diria a musica: "Um lugar tão distante, pra que eu possa viajar. E tão perto quando eu preciso. E eu sei que vou precisar."
Bem é isso. Foi apenas um desabafo ao falhar desastrosamente na tentativa de tirar um som do meu velho saxofone.
Abs!
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